Image by Ross Stone.


share this post

LinkedInFacebookTwitterLinkLink

English top | Portuguese bottom | six paragraphs

Editorial of Espaço Energia – Brazilian Open Journal of Energy

http://www.espacoenergia.com.br/edicoes/36/EE036-01-editorial-english.pdf

Co-authored with (Meneer) Marcelo Rodrigues Bessa

The world energy sector has been heavily impacted by recent global events, notably the conflict between European countries, which has brought turmoil in various sectors of the economy and, consequently, has caused socioeconomic difficulties in several countries. However, the adverse situation we are experiencing today could have been significantly mitigated if it were not for the negligence of world leaders, especially European leaders, regarding energy security strategies. The diversification of resources, in this specific case, of energy sources, is a strategy that is known to provide security, since, with a balanced matrix, the scarcity of supply of an energy source, or even its complete withdrawal, is easily compensated by the remainder sources. Using economic jargon, hedging is very important.

Diversification also plays an important role in environmental sustainability. The recent report by the Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) shows that the emission of greenhouse gases continues to increase, which demands emergency and urgent actions in a global context, under the leadership of the countries that consume most of the energy. Therefore, in recent years, despite the warnings of several international organizations, world leaders have not done enough to neutralize the progression of environmental deterioration. We all know that there is no completely neutral way of generating energy safely, but the need to expand efforts to diversify the world energy matrix is evident, privileging sources that have less negative impact on the environment.

The lack of governmental strategy in the energy sector today in Brazil is noticeable. We have watched with great concern the attempts at political interference in state-owned companies, especially in the oil sector, due to the turmoil caused by the conflict in Europe. The current situation highlights the lack of energy security policies, among others related to the adequate supply of energy to the industrial sectors in the country. Unfortunately, the natural path of government leaders is political interference rather than the development of policies that will mitigate the effects of global crises.

Brazil, until recently a respected leader in issues of energy generation using adequate sources, today is on the sidelines of the process of modernization of energy matrices. The country’s geopolitical strategy for the composition of a cleaner and cheaper energy matrix, although it could be the target of occasional criticism, was perceived worldwide as something to be recognized. Obvious issues can be cited, such as the predominant use of energy from water sources, from wind sources, both with Marginal Operating Cost equal to zero, extensive interconnection between electrical subsystems and respect for environmental issues. Among the specific objections, we can mention the detachment between the physical production of the generators and their revenue. These aspects, which make an industry economically viable, cannot be addressed by anachronistic models.

In times of crisis, it is tantalizing to withdraw resources from initiatives aimed at the evolution of society, those that add future value to the nation, since their results are not visible to the general public in the short term. This was exactly the case of the R&D Programme of the regulatory agency for electrical energy, ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), whose resources which had not yet been invested were redirected to urgent issues caused by the pandemic. It is natural that resources are redirected when there is a strong contingency, but the map established by government bodies regarding the contribution of each sector of the economy speaks for itself. If the country wants to stand out technologically and promote the evolution of society, providing an increasingly higher quality of life, it cannot afford to withdraw resources almost exclusively from actions aimed at the future. This demonstrates a lack of public policies and security strategies in all sectors, including energy.

Strategies related to the country’s energy sector should not only guarantee the continuity of initiatives that bring value in the medium and long term, but also develop energy diversification strategies that guarantee security for society, mitigating the effects of crises and protecting both the industrial sector and the society of economic turmoil and commercial fluctuations caused by resource contingencies. If energy diversification strategies are insufficient and investments in technological innovation are redirected to the point of interrupting ongoing initiatives, the attitude that the country demonstrates is not one of thinking about its own future, but of coming to terms with its underprivileged situation vis-à-vis the more developed nations, perpetuating its stigma of, despite having the resources to evolve, not being able to take off.


Editorial do periódico Espaço Energia – Brazilian Open Journal of Energy

http://www.espacoenergia.com.br/edicoes/36/EE036-02-editorial-portugues.pdf

Em coautoria com (Meneer) Marcelo Rodrigues Bessa

O setor energético mundial vem sendo fortemente impactado pelos recentes acontecimentos globais, notadamente o conflito entre países da Europa, que trouxe turbulência em diversos setores da economia e que, consequentemente, tem causado dificuldades socioeconômicas em diversos países. No entanto, a situação adversa que hoje vivemos poderia ter sido amenizada significativamente, não fosse o descaso de líderes mundiais, em especial os líderes europeus, quanto a estratégias de segurança energética. A diversificação de recursos, neste caso específico, das fontes de energia, é uma estratégia que sabidamente provê segurança, uma vez que, com uma matriz equilibrada, a escassez de suprimento de uma fonte de energia, ou até mesmo sua completa retirada, é facilmente compensada pelas demais. Usando o jargão econômico, fazer “hedge” é muito importante.

A diversificação também tem um papel importante na sustentabilidade ambiental. O recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change) mostra que a emissão de gases de efeito estufa continua aumentando, o que demanda ações emergenciais e urgentes em contexto mundial, sob a liderança dos países que mais consomem energia. Portanto, em anos recentes, não obstante os alertas de diversos organismos internacionais, os líderes mundiais não fizeram o suficiente sequer para neutralizar a progressão de deterioração do meio ambiente. Todos sabemos que não existe uma forma completamente neutra de se gerar energia com segurança, mas é evidente a necessidade de ampliar os esforços na diversificação da matriz energética mundial, privilegiando as fontes que tenham menor impacto negativo ao meio ambiente.

É perceptível hoje no Brasil a falta de estratégia governamental no setor energético. Temos assistido com grande preocupação as tentativas de ingerência política em empresas estatais, especialmente na área de petróleo, devido às turbulências ocasionadas pelo conflito na Europa. A situação atual evidencia a carência de políticas de segurança energética, dentre outras relacionadas ao adequado suprimento de energia aos setores industriais no país. Infelizmente, o caminho natural dos líderes governamentais é o da interferência política em detrimento da elaboração de políticas que venham a mitigar os efeitos de crises mundiais.

O Brasil, até há pouco uma liderança respeitada em questões de geração de energia utilizando fontes adequadas, hoje está à margem do processo de modernização das matrizes energéticas. A estratégia geopolítica do país para a composição de uma matriz energética mais limpa e econômica, embora pudesse ser alvo de críticas pontuais, era percebida mundialmente como algo a ser reconhecido. Podem-se citar questões óbvias, tais como o uso predominante de energia de fontes hídricas, de fontes eólicas, ambas com Custo Marginal de Operação (CMO) igual a zero, extensa interligação entre os subsistemas elétricos e respeito a questões ambientais. Entre as objeções pontuais, pode-se citar o descolamento entre a produção física dos geradores e sua receita. Esses aspectos, que viabilizam economicamente uma indústria, não podem ser abordados por modelos anacrônicos.

Em tempos de crise, é tantalizador retirar os recursos das iniciativas voltadas à evolução da sociedade, aquelas que agregam valor futuro para a nação, já que seus resultados não são visíveis para o público geral no curto prazo. Foi exatamente este o caso do Programa de P&D da ANEEL, agência reguladora de energia elétrica, cujos recursos que ainda não haviam sido investidos foram redirecionados para as questões urgentes ocasionadas pela pandemia. É natural que recursos sejam redirecionados quando há uma forte contingência, mas o mapa estabelecido pelas instâncias governamentais quanto à contribuição de cada setor da economia fala por si. Se o país deseja se destacar tecnologicamente e promover a evolução da sociedade, provendo cada vez maior qualidade de vida, não pode se dar ao luxo de retirar os recursos quase que exclusivamente das ações voltadas ao futuro. Isso demonstra carência de políticas públicas e estratégias de segurança em todos os setores, inclusive o energético.

As estratégias relacionadas ao setor energético do país deveriam não apenas garantir a continuidade das iniciativas que trazem valor no médio e no longo prazo, mas também elaborar estratégias de diversificação energética que garantam segurança para a sociedade, amenizando efeitos de crise e protegendo tanto o setor industrial quanto a sociedade de turbulências econômicas e oscilações comerciais ocasionadas por contingências de recursos. Se as estratégias de diversificação energética são insuficientes e os investimentos em inovação tecnológica são redirecionados a ponto de interromper iniciativas em andamento, a postura que o país demonstra ter não é a de pensar em seu próprio futuro, mas sim de se conformar com sua situação desprivilegiada ante as nações mais desenvolvidas, perpetuando seu estigma de possuir recursos para evoluir e, melancolicamente, não conseguir decolar.

k l a u s d e g e u s