Este livro consiste em uma visão pessoal sobre empreendimentos empresariais e sua relação com a criatividade e, por conseguinte, com a arte, seja ela latente em nossa mente, ou concretizada como obra.
Por esse motivo, resolvi escrever em forma narrativa, na primeira pessoa, pois achei que essa linguagem traria uma fluência mais adequada ao texto. Além disso, procuro encarar todas as questões aqui abordadas de maneira bem prática, não prescindindo, por isso, de fundamentação teórica, baseada em literatura científica, técnica, informal, prosaica, experimental ou até mesmo artística.
Resolvi também utilizar uma segunda linguagem por meio da qual é apresentado um texto paralelo intitulado “Crônicas corporativas”, as quais constituem uma narrativa bastante informal, às vezes até um pouco rebelde, de experiências do ambiente corporativo. As crônicas aparecem ao término de cada capítulo em um quadro cinza. De qualquer maneira, esses relatos tratam de experiências reais presenciadas por mim ou por outras pessoas próximas. A intenção ao escrever as crônicas era justamente ilustrar e, se possível, evidenciar, sem rodeios, as artimanhas que se passam no ambiente corporativo e nas mentes dos seres humanos nele inseridos.
Minha formação é de engenheiro, apesar de sempre ter tido uma veia artística. Cheguei a pensar em fazer arquitetura, mas desisti no curso preparatório. Optei por engenharia por gostar de matemática. Depois, veio a frustração, e percebi que era necessário saber mais. Fiz mestrado e doutorado em ciência da computação, já que passei a trabalhar com isso mesmo antes de terminar a graduação. Claro, a computação me atraía por causa de sua natureza artística e criativa, mas não sei se eu sabia disso.
Depois que me formei, passei três anos e meio trabalhando numa multinacional, no Brasil e no exterior. A experiência no exterior era marcante, mas não evitava a frustração profissional. Parecia que eu não realizava nada, apenas seguia certas regras, certo padrão de conduta profissional. A primeira mudança aconteceu quando dei um basta nessa situação e fui fazer mestrado e doutorado, também no exterior. Foram anos de grande satisfação profissional, pois lidava com o estado da arte, dirigia meu próprio trabalho e estava livre para realizar.
Depois de cumpridos esses anos de grande satisfação profissional, voltei ao Brasil e engajei-me na vida acadêmica. Vi que o trabalho não seria exatamente aquilo que eu esperava. Comecei a desejar criar ou pelo menos ajudar a criar uma ligação mais forte entre a academia, a indústria e a sociedade. Queria provar que o que as pessoas da indústria falavam a respeito dos acadêmicos, que viviam apenas lidando com coisas teóricas e que não traziam benefício prático algum, não era verdade.
Veio a oportunidade de trabalhar numa instituição de pesquisa pertencente a uma empresa. Vislumbrei a oportunidade de fazer algo prático com ciência. Infelizmente, a conjuntura do país impôs algumas mudanças estruturais nos modelos das empresas, e meu sonho foi por água abaixo. Resignei-me a trabalhar na empresa, porém sem a função para a qual tinha sido contratado, a de pesquisador ou cientista, fazendo algo prático para a indústria e para a sociedade. Trabalhei com atividades normais da área de computação por alguns anos, tentando espantar o pensamento de frustração que me perseguia. Vez ou outra, publicava um artigo científico em algum veículo, nacional ou internacional, tomando por base os trabalhos desenvolvidos com meus alunos de mestrado. Eu havia continuado com um pé na universidade, como professor/colaborador – aquele que não recebe para trabalhar.
No meio disso tudo, dava um jeito de extravasar minha necessidade de criar e empreender, fazendo uso, para tanto, de minha veia artística, que havia enterrado em algum canto no início de minha carreira profissional, e desenterrado assim que chegara à conclusão de que não dava para viver sem isso.
Fiz alguns trabalhos de artes plásticas, tudo muito simples, mas o bastante para me sentir criando algo. A música sempre permeou minha vida. Desde os quinze anos de idade sonhava em empreender um trabalho musical, que explorasse características inusitadas e que ao mesmo tempo tivesse um caráter estético e evocasse o sentimento. Mas a vontade de realizar aparentemente estava perdendo a batalha para o sentimento de incompetência, uma vez que música não era minha profissão ou minha principal atividade. Quisera eu tivesse me preparado para ser músico. Essa desculpa, na verdade, não significava nada, apenas um subterfúgio para eu me justificar por não fazer nada.
De repente acordei. Vi que o tempo havia passado, e que eu não iria crescer muito mais. Se era para fazer, tinha de ser agora, caso contrário a oportunidade iria se esvanecer num futuro esvaziador. Procurei como empreender o trabalho, consegui o apoio do Ministério da Cultura, escrevi o projeto e o empreendi em quatro anos. Fiz mais do que um trabalho musical, um trabalho com múltiplas linguagens artísticas.
Esse trabalho é relatado resumidamente neste livro como forma de traçar um paralelo entre o mundo artístico e o mundo dito profissional. A intenção é analisar como a natureza artística pode interferir e trazer benefícios para o mundo empresarial. Esse paralelo é muito importante neste trabalho, uma vez que traduz a essência de sua mensagem.
Outra iniciativa de cunho literário, voltada ao conhecimento, foi a criação de uma revista científica, multidisciplinar, com foco no setor energético. O intuito da revista é fomentar a inovação e o desenvolvimento tecnológico do setor.
Para completar a jornada, faltava apenas este livro, cuja essência já estava no forno havia algum tempo. Aliado às minhas novas atividades na gestão de pesquisa e desenvolvimento e na gestão acadêmica, este livro não só traduz o sonho de falar destemidamente sobre a arte de criar, mesmo num mundo cheio de regras como o da indústria, mas também a pavimentação de um caminho para transformar os esforços de pesquisa e desenvolvimento em inovações que realmente tragam valor à sociedade.
Com a mistura de linguagens inseridas no texto do livro, torna-se difícil categorizá-lo. Ao mesmo tempo que lança mão de bases científicas, faz reivindicações que podem ser consideradas como ensaios. Muito mais por esse motivo, não consigo prever como será sua receptividade no mercado. Talvez seja necessário passar ainda um tempo para que os conceitos aqui trabalhados se consolidem na cultura de gestão empresarial. Vou esperar.